Capitã de planejamento de carreira na Soul Brasil Esportes, esgrimista master, diretora-fundadora da Esgrimaster e entusiasta de temas espaciais. Aos 58 anos, Patrícia Bracco, além de vivenciar o esporte na categoria veterano, também orienta atletas como Victória Vizeu a alcançar maiores patamares ao sonharem com a carreira no alto rendimento. Hoje, com a arma espada, ela treina no Clube Atlético Paulistano, em São Paulo.
Você poderia contar um pouco sobre a sua história com a esgrima?
Patrícia Bracco: Eu comecei tardiamente a esgrima, sem pretensão de fazer esse esporte. Eu estava no meu clube e passei pelo ginásio para ir à academia e vi um torneio de esgrima. Parei para ficar observando, acho que fiquei um pouco no imaginário de quando a gente é criança, aquelas lutas de espada como os três mosqueteiros. Então me veio a bagagem de filmes de heróis e de princesas que tinham luta de espada, eu gostava muito na infância. Coincidentemente tinha um pai perguntando para um professor, que a gente chama de mestre de armas, se tinha para o filho dele. E eu estava ali do lado e perguntei se tinha para adulto. Ele falou que sim e no próprio clube em que eu sou sócia. Isso aconteceu num domingo, na segunda-feira a noite eu já fui para a sala de esgrima do clube conhecer. Como eu sempre gostei muito de esporte, eu já fui de agasalho e tênis. Eu falei que queria informação, ele olhou para mim e perguntou se eu queria começar imediatamente. Eu já estava preparada e respondi que sim. O mestre me mostrou quais são as diferenças, porque a esgrima é composta por três armas: espada, florete e sabre. Me contou a característica de cada uma das armas e aí eu comecei a treinar naquele ano, me encantei pelo esporte. A receptividade dos atletas foi um fator fundamental. Acho que começar um esporte com qualquer idade é muito positivo e com um grupo que te acolhe no esporte que você escolheu realmente fica mais fácil mesmo você gostar. E foi assim que eu comecei, tardiamente, já pré veterana. Diferente da Victória Vizeu que começou desde pequena, porque a esgrima usualmente começa na infância, com sete anos de idade. Hoje tenho colegas com o dobro de tempo de esgrima mas muito mais novos que eu, três décadas a menos. Comecei aos 49 anos, a gente chama de pré veterano.
Além da sua atuação na Soul, você também é sócia-fundadora da Esgrimaster. Do ponto de vista de uma gestora de projetos, para você qual a importância do planejamento de carreiras para atletas?
Patrícia Bracco: A Esgrimaster eu acabei fundando junto com outros colegas masters. Justamente porque eu me encantei pelo esporte e por sabermos que tinha poucos esgrimistas masters acima de 40 anos participando, decidimos nos reunir. A vida do atleta começa aos sete anos de idade e normalmente vai até a época da faculdade. Na época de faculdade ele acaba decidindo entre parar a esgrima e seguir os estudos ou, como alguns atletas fazem, conciliar a faculdade com o estudo. Quando este atleta entra no mundo corporativo larga o esporte, porque a demanda é muito grande. Poucos atletas se tornam de alto rendimento e fazem a carreira como atleta. A ideia do Esgrimaster é resgatar esses atletas que jogaram por muito tempo, abandonaram por motivos de estudo ou trabalho, e agora estão mais maduros e retornam para o nosso esporte. Essa é a função da Esgrimaster. No planejamento de carreira desses atletas tem esses dois lados. O atleta que chega ao mundo corporativo e acaba largando o esporte para se dedicar ao trabalho, passa a não mais treinar ou levar o esporte como recreativo. São poucos os casos de atletas que voltam para competir, principalmente porque nos torneios no Brasil você viaja para alguns estados e tem os torneios internacionais. Muitas vezes em épocas de trabalho é difícil conciliar uma coisa com outra. Puxando para a minha experiência, eu quando comecei estava trabalhando e tinha que fazer o meu planejamento anual. Decidir que torneios eu poderia ir, porque normalmente os torneios são quinta, sexta, sábado e domingo. Obviamente que no torneio de quinta e sexta-feira eu não podia participar. Então eu olhava o calendário anual e planejava quais os torneios que iam ter sábado e domingo para eu poder comprar passagem, para eu poder fazer meu planejamento propriamente dito. Isso é algo que acontece muito com os atletas que estudam, às vezes com mais flexibilidade de faltar numa aula. Mas tem o lado corporativo que não pode faltar no trabalho para fazer um esporte. E isso eu vivi por muitos anos.
E dentro da Soul você é a pessoa que acompanhou a jornada da Victoria Vizeu mais de perto. Como você diria que o trabalho da Soul auxiliou a Victória a ser nomeada para o programa Conexão Santiago do Comitê Olímpico Brasileiro (COB)?
Patrícia Bracco: Foi uma construção. A Victória já tinha muito claro o gosto pelo esporte. O apoio familiar dela é um passo fundamental. Ela tinha uma dedicação muito forte aos estudos e aí ela trouxe isso para ela, a meta de querer ser uma atleta de esgrima. A gente começou a mostrar os resultados. Quando você olha numa linha de tempo começa a perceber que ela realmente estava com um potencial de crescimento, tanto nas categorias dela e como nas superiores que ela podia participar. Com toda essa visão foi dando mais segurança para ela do potencial que ela estava conquistando. Para o pessoal em torno, os familiares, ela mostrou não ser um caso de sorte. Ela tem potencial, traz resultados e vale o investimento. Esse planejamento, com esse olhar da carreira dela como atleta, permite que ela vá para grandes objetivos, entrando agora no programa do COB. Desde a nossa primeira conversa ela tem o objetivo forte de participar dos Jogos Olímpicos, seja agora em Paris ou nos Estados Unidos na próxima versão.
E para os jovens atletas, como eles podem se espelhar na Victória ao se falar de planejamento?
Patrícia Bracco: É fundamental esses jovens terem um atleta como referência, isso é muito importante. E ela é uma atleta bem centrada, com boas atitudes e essa condução de vida dela é um exemplo. Ela já é uma atleta referência. Mostrar que ela tem esse planejamento incentiva outros atletas a almejar o mesmo. Ela faz um planejamento, participa de tais competições, cuida da saúde e da alimentação, tem um apoio psicológico, está trabalhando agora a parte de marketing e branding, então ela é um produto e esse produto está dando certo. Quando você gosta de um produto, você vai consumir este produto. O jovem atleta pode olhar isso como um produto que seja alcançável, porque é possível o jovem ser também um atleta de alto rendimento, entrar nos programas de bolsa atleta e ter resultados. Ela realmente é um ponto de referência muito importante.
Pensando na sua trajetória não só como esgrimista mas também como profissional com mais de 20 anos em gerenciamento de projetos, qual conselho você daria aos atletas que querem começar tardiamente no esporte, como foi no seu caso?
Patrícia Bracco: É possível, eu sou exemplo. Mas não é fácil, precisa ter um planejamento. E a partir do instante em que você tem um planejamento, você define quais são os seus objetivos. Isso eu fiz para mim, não é só um caso da gente apoiar algum atleta como no caso da Victória. Eu tenho os meus objetivos muito claros, eu tenho as minhas metas e com essa experiência da gestão de projetos, de ter trabalhado muitos anos na área corporativa e ter a parte de planejamento muito forte em mim, eu aconselho. É possível em qualquer idade e é importante ter um planejamento, criar objetivos, eu diria até assertivos. Eu quero ser campeã mundial na categoria master, então é um big goal meu e eu me planejo para isso. E o hábito de realizar planejamento direcionou minhas conquistas anteriores, como Campeã Brasileira e Sul-Americana, ambas na categoria master. O caminho tem subidas e descidas, mas a gente tem que persistir. O mais importante é ter bem claro o seu principal objetivo, resiliência, persistência, garra e treinar. Entender também que tem dias que as coisas não dão certo num torneio, mas tem que virar a página e melhorar para o próximo. É um caminho constante.
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