Esgrimista desde a adolescência, Fábio Lemes retomou o esporte para representar a sua comunidade na Gay Games, em 2018. Com a ajuda da Soul, hoje o representante da espada treina com afinco e estabelece novas metas para o futuro. O atleta é um protagonista na luta contra o preconceito e já ocupa lugar na Comissão de Atletas da Confederação Brasileira de Esgrima.
Qual a sua história como atleta?
Fábio Lemes: Em casa, desde criança tínhamos que fazer algum tipo de esporte. Eu lembro que por volta dos 15 anos eu estava passeando no meu clube, cujo eu sou sócio desde que nasci, e vi uma sala de esgrima. Eu fiquei surpreso com aquele esporte tão diferente. Todo mundo teve contato com a esgrima em algum momento, a grande maioria teve por conta das Olimpíadas. Eu sabia o que era, mas eu nunca havia experimentado e muito menos sabia que tinha essa modalidade no meu clube. Fiz as primeiras aulas e pratiquei dos 15 aos 19 anos. Aí fiz um intercâmbio nos Estados Unidos, onde eu desloquei meu ombro. Quando voltei ao Brasil já não conseguia render mais na esgrima por causa do meu ombro, foi quando eu parei pela primeira vez. Depois de mais de 13 anos eu voltei, aos 32 anos, para uma competição internacional, que foi o Gay Games em Paris, 2018. Eu voltei medalhista de bronze e desde então não parei mais.
E como foi a experiência no Gay Games?
Fábio Lemes: Eu acho que como atleta LGBTQIAP+, todo mundo que faz parte dessa comunidade ou que é um aliado, que cresceu com alguém desta comunidade, já teve alguma experiência de homofobia, bifobia ou lesbofobia. Então saber que tem um evento no qual você é aceito de forma plena e totalitária é muito importante. Eu lembro que eu me inscrevi no Gay Games em fevereiro de 2018 e eu comecei a treinar logo depois do Carnaval. Foram quase seis meses treinando de cinco a seis vezes por dia, para conseguir ir lá e fazer alguma coisa. Este esforço resultou em uma medalha por equipes, juntamente com um atleta das Filipinas. No quadro geral eu fiquei em 11° de 37 atletas. E é um intercâmbio de realidades, porque como brasileiro você se compara com países mais desenvolvidos nas questões sociais e de direito civil, e também com países em que ser da comunidade LGBTQIAP+ é motivo de pena de morte. É muito incrível competir, mas é ainda mais incrível conhecer as pessoas e ter esse contato com um pouquinho da realidade de todo mundo. E também estar em um evento em que você não vai escutar piadinhas de mal gosto ou sofrer nenhum tipo de preconceito foi incrível.
Como você faz para organizar suas metas e objetivos na carreira?
Fábio Lemes: Hoje ficou mais fácil por causa do aplicativo da Soul. Eu não sou um atleta que se quer tenha a possibilidade de participar de uma Olimpíada, eu comecei tarde na esgrima, são vários obstáculos. Mas uma das coisas que eu gosto muito do esporte, da esgrima em específico, é que cada atleta tem um tipo de categoria e uma competição na qual ele pode realmente se espelhar ou mirar para ganhar uma medalha. Então fizemos esse consenso de quais competições são mais importantes, das quais eu tenho mais oportunidade de realmente brigar por pódio . Com base nisso a gente programa os treinos, horários, alimentação e o descanso, que é muito importante também. Não adianta só treinar, temos que pensar no descanso, na vida pessoal e nos cuidados da cabeça. O aplicativo da Soul me ajudou bastante a ver os resultados especialmente e estabelecer algumas metas. Tira a minha responsabilidade de ficar jogando tudo em Excel, mandando para técnico. Ter algo para facilitar minha vida é sempre bem-vindo.
E pensando no que te trouxe até aqui, qual foi o ponto mais importante da sua carreira como atleta?
Fábio Lemes: Acho que está sendo agora. Depois do Gay Games eu resolvi voltar para o circuito nacional e realmente competir levando a bandeira do arco-íris no meu peito, aliás, no meu ombro. Na esgrima a gente coloca os patrocinadores na lateral do braço. E foi realmente importante para mim trazer essa bandeira para as causas sociais mais urgentes. Infelizmente no esporte a gente tem ainda muita homofobia, inclusive na esgrima. É um constante diálogo com atletas, pais de atletas e dirigentes dos clubes. Eu fui votado como integrante da Comissão de Atletas da esgrima brasileira, um outro peso e uma outra frente para lutar por igualdade e respeito. A esgrima é um pequeno grande esporte como costumo falar. Mas preconceito e ódio tem em todos os lugares. Essa medalha foi a primeira dessa categoria para o Brasil, no âmbito desportivo da esgrima. E o legado deve ser continuado, não pode morrer ali. Hoje eu conto com outros esgrimistas da comunidade que são abertos, eles saíram do armário dentro do esporte. Apesar de muita gente não esconder a preferência, há quem opte por ficar quieto quando chega no esporte. Algumas pessoas já falaram se sentirem influenciadas por mim, sabendo que tem alguém ali pronto para lutar por esses direitos. Obviamente eu amo a minha medalha e todos os meus resultados. Cada medalha é uma luta e conquista, é um choro e um desânimo, uma depressão. Mas o que eu faço de mais importante ainda é levantar essa bandeira da causa, da briga por justiça, igualdade e, acima de tudo, por respeito.
Como é que a Soul está fazendo diferença na sua carreira como atleta?
Fábio Lemes: Primeiramente no espaço de fala. Ter pessoas interessadas em escutar o relato e as experiências de alguém que é da comunidade LGBTQIAP+ é ainda hoje uma coisa muito rara. E o espaço que vocês me deram já reverberou em outras mídias e plataformas. Então o que me vem à cabeça é como a Soul me ajudou me dando voz, me dando espaço de fala. E obviamente a plataforma facilita muito a vida, porque você poder colocar seus resultados e ter gráficos, ver os seus horários de treino. Saber também que a plataforma pode ser acessada pelos meus técnicos é uma coisa que facilita muito, porque eles não me perguntam mais nada a respeito dos meus treinos, fica tudo ali. Eles entram e veem no que eu preciso melhorar, se estou tendo overtraining e estes detalhes. Não desgasto os meus relacionamentos e é fácil de utilizar a plataforma.
Como você acha que a Soul pode ajudar no seu esporte?
Fábio Lemes: Eu não consigo pensar em algo mais específico que o próprio aplicativo já faz. É uma plataforma extremamente completa para auxiliar a vida do atleta e dos técnicos, também de todo mundo que trabalha com atleta. A esgrima, como eu mencionei, é um pequeno grande esporte. Ela conta com poucos atletas em um país que deveria ter mais atletas da modalidade. Eu acho que além de tudo a Soul está ajudando a divulgar e a disseminar o esporte em um país ainda que é do futebol, do vôlei e do basquete. No dia 5 de junho nós completamos 95 anos da esgrima brasileira, então a gente tem história e tem tradição, mas infelizmente não é disseminada. A plataforma é incrível, então eu acho que a Soul está ajudando a popularizar mais ainda o esporte.
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